Resumo do livro: Value investing

Value Investing

O tema deste mês será o livro “Value Investing: From Graham to Buffet and Beyond” publicado em 2004 por Bruce Greenwald e Paul Sonkin. Bruce é um professor da escola de negócios da universidade da Columbia e conselheiro de um grande fundo de investimentos tendo PhD em economia pelo MIT e já tendo sido professor da escola de negócios de Harvard, conhecido também como o Guru dos Gurus de Wall Street. Já Paul é também um investidor de extremo respeito no cenário norte americano e figurando como o gestor de três grandes fundos de investimentos tendo ainda mais de 25 anos de experiência em empresas micro-caps. 

O tema do livro é exatamente a especialidade dos mega investidores: o Value Investing, técnica já muito comentada por aqui e que se baseia na participação acionária em empresas que podem ter suas ações compradas por menos do que seu valor intrínseco – gerado pela quantidade de valor existente nelas – o que gera a margem de segurança. O livro trata também da própria evolução de tal técnica ao longo dos anos e de seu aprimoramento sobretudo pelo maior discípulo de todos: Warren Buffet. Para Graham, o valor só poderia ser dimensionado por ativos físicos enquanto para Buffet questões como vantagens competitivas importavam tanto quanto ou até mais que para a definição do valor intrínseco da ação. 

O livro contém vários conhecimentos muito valiosos sobre os investimentos em ações e em empresas, mas um deles se destaca, não só no mundo dos investimentos propriamente ditos, mas também no mundo das startups e da estruturação dos negócios delas. Esse é o tema das vantagens competitivas, o que Buffet chama de vala ao redor do castelo. Pense assim, sua empresa durante sua jornada de negócios enfrenta competição e ataques de várias outras empresas que estão competindo pelo lucro e pelos clientes e, caso não esteja bem protegida desses ataques, ela sofrerá consideravelmente as consequências negativas disso como margens baixas, baixo ROIC, queda nos lucros etc. 

Para proteger a empresa é necessário que ela seja construída na forma de castelo e que, além disso, seja construída uma vala ao redor desse castelo, tamanha é a importância da proteção contra esses ataques. As vantagens competitivas são, na linguagem figurativa, esse castelo e essa vala. Mas o que são vantagens competitivas? Bom, a primeira parte é separar os dois tipos de vantagens competitivas que são as momentâneas e as permanentes. As vantagens competitivas momentâneas, que podem ser, por exemplo uma eventual propaganda bem feita ou algum problema momentâneo nos concorrentes, ou até a contratação de um funcionário especialmente capaz, não são muito o foco do livro pois da mesma forma que vem, elas podem desaparecer e o investidor, ou empreendedor, fica a mercê novamente da competição – as vantagens competitivas momentâneas são como um exército ao redor da sua startup, que pode defendê-la no momento, mas invariavelmente vai desaparecer. 

Então em se tratando de vantagens competitivas permanentes, veja exemplos de algumas: 

  • Licenças governamentais e patentes: através dessas não será permitido por lei que ninguém entre em competição com você e, portanto, suas margens serão altíssimas, como em um monopólio, pois será um. Pense em modelos de negócios que podem te oferecer isso, às vezes a pesquisa por um composto bioquímico novo, ou a descoberta de uma mina. 
  • Inviabilidade geográfica: esse é o caso de muitos produtos de commodities e se assemelha de certa forma ao ponto acima. Algumas empresas de commodities muito pesadas e com pouco valor por Kg acabam se beneficiando por não haver nenhum produtor por perto. Como o transporte daquela commodity fica caro em relação ao preço dela, visto que o preço por Kg é baixo, uma pedreira por exemplo consegue cobrar valores consideravelmente maiores por seus produtos se estiver em uma área muito distante de outra pedreira. 
  • Produtos com alto preço de troca, nos quais o consumidor tem muita dificuldade de abandonar o seu serviço atual e ir para outro. Tal preço alto pode ser por exemplo por uma grande dificuldade de instalação, ou produtos que geram muito medo no usuário se trocados, como seguros de vida que se não funcionarem causam um prejuízo gigante ao usuário, ou produtos em áreas totalmente desconhecidas pelos usuários, como produtos de tecnologias para leigos. 
  • Soluções de baixo custo de produção por motivo duradouro, ou seja, às vezes você tem contatos com fábricas chinesas para produção de manufaturados a preços extremamente baratos, porque não abrir uma empresa e empreender na importação e comercialização desses produtos? Existe aqui uma vantagem que sempre te colocará na frente. 
  • Acesso a capital barato por motivo duradouro. Essa inclusive, pode se tornar um modelo de negócios por si só, como já ocorreu com os seguros que são atualmente nada mais do que modelos de negócios baseados em conseguir capital a custo zero. As seguradoras cobram as mensalidades no início mas somente precisam pagar os sinistros no futuro, quando ocorre a batida, dessa forma, o dinheiro fica parado nos cofres das seguradoras que podem utilizá-lo para investimentos, os quais rendem proventos que são então os lucros das seguradoras. A mesma coisa ocorre com bancos, ao pedirem os depósitos dos clientes e pagarem taxas baixas para ter tal dinheiro em seus cofres, eles podem investir esse dinheiro e conseguir rentabilizá-lo em excedente do valor pago para os clientes, o que gera lucro. 

Agora, sabendo dessas vantagens competitivas pare para pensar se seu empreendimento tem alguma, pode ser por exemplo uma tecnologia muito nova a qual ninguém ainda tem e é de difícil produção, ou então um sócio extremamente estratégico naquela área que pode atuar gerando valor. As possibilidades de vantagens competitivas são várias, mas é necessário que exista pelo menos uma para que a empresa possa ganhar uma margem de lucro suficiente para se manter com tranquilidade e para financiar a expansão do negócio. Caso seu empreendimento não tenha nenhuma, reformule e pense até achar alguma forma.

É por isso inclusive que o livro em questão é extremamente recomendado para todos os investidores: além de falar extensivamente sobre esses e várias outras vantagens competitivas, ele dá ainda várias dicas de governança, estruturação de processos, avaliação de empresas, entre vários outros. É leitura obrigatória para todos que desejam entender de negócios e empreendimentos. 

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