O tema desse mês será o livro O Investidor Inteligente originalmente publicado em 1949 por Benjamim Graham, gênio investidor que despensa introdução no mundo dos investimentos, inventor do método de Value Investing e um dos mentores mais importantes, quiça o mais, de Warren Buffet.
Para entender o livro, primeiro precisamos entender o momento histórico no qual ele foi criado. Em 1949, os EUA ainda estavam se recuperando da Grande Depressão Econômica iniciada em 1929, sobretudo no contexto dos investimentos em ações, que tinham sido colocados em uma posição totalmente oposta àquela de antes, agora sendo vistos como inseguros e irresponsáveis. Muito disso era fruto da própria perda de valor que tais ativos tinham encarado nos últimos anos devido à crise, e muito disso, por outro lado, fazia com que tais perdas e preços baixos pelas ações se mantivessem assim, com o público totalmente avesso a essa área comercial.
Outra situação muito diferente da dos dias atuais era a de fiscalização e assimetria de informação daquela época. Primeiro, como não existiam computadores, internet, telefones, dentre outros, conseguir as informações sobre as empresas era muito mais difícil do que é hoje em dia – e nisso falamos somente sobre a dificuldade de conseguir os balanços patrimoniais por exemplo e demonstrativos financeiros, a atividade de conseguir informações sobre preferência de consumidores, porcentagem de Market Share, dentre outros era basicamente impossível.
Tal questão em si já tornava o investimento em ações muito mais arriscado do que é hoje, e muito mais arriscado do que deveria ser. Como saber em qual empresa investir se não há informação sobre as questões mais básicas da empresa em disponibilidade para consulta. Somente dessa parte do livro já podemos tirar uma lição valiosa para os empreendedores que é a de realização dos já tão falados Plano de Negócios e Balancetes Financeiros, a fim de apresentar para potenciais investidores da startup. Sem eles, é impossível que você consiga captar investimentos.
Já a parte da fiscalização era também importante, tal como sua implicação que eram os geralmente terríveis níveis de governança corporativa. Isso pois, se o acesso às informações era difícil, existiam menos pessoas fiscalizando a empresa – no geral, somente os próprios fiscais das autoridades competentes e mesmo assim com muita dificuldade, enquanto hoje temos dezenas de investidores e jornalistas fazendo esse trabalho. Dessa ausência de fiscalização, tal como de outras questões culturais e sociais da época, surgiam várias “falcatruas” e irregularidades, várias situações nas quais os indivíduos utilizavam as empresas nas quais tinham influencia para se beneficiar pessoalmente de forma ilegal.
Disso temos uma segunda lição importante para o investidor que é a necessidade de uma Governança Corporativa bem definida e correta, não só bem desenhada em um papel, mas também uma que se cumpre no dia a dia, uma que tem ferramentas previstas para investigação de irregularidades e uma que alinha os interesses dos membros, coloca os tomadores de decisão nos locais certos e da segurança para os investidores, e, inclusive, para os próprios sócios das empresas, uma vez que muitas vezes são esses os maiores investidores dela.
Revise, por exemplo, os salários dos colaboradores, alguns podem estar ganhando mais do que merecem e outros menos, alguns poderiam ter sua recompensação mais atrelada à sua produtividade e outros poderiam ser colocados em posições que mais se alinhem com seus interesses – uma pessoa que se beneficia dos ganhos da empresa, como acionistas, deveriam estar em posições de comando, nas quais podem exercer seu trabalho para beneficiar a companhia como um todo e, assim, obterem a recompensa pessoal.
Outro tema muito abordado pelo autor é a análise completa da empresa, o quanto mais profunda possível, inclusive com, se possível, revisão de contratos e termos de compromisso. Isso pois muitas vezes empresas podem se prejudicar profundamente, muitas vezes inclusive sem os próprios gestores terem previsto tal situação, devido a contratos passados que foram assinados e determinam compromissos ruins e não estratégicos. Essa inclusive é outra realidade muito importante no mundo das startups e que muitas vezes prejudica enormemente os empreendedores.
Isso pois, durante o ciclo de vida de uma startup, muitos contratos são assinados com muitas empresas diferentes como aceleradoras, investidores, fundos de investimentos, clientes e até Venture Builders e, nestes, podem constar clausulas que prejudicam as startups, talvez inclusive não no futuro recente, mas potencialmente no futuro tardio. A clausula de Lock-up por exemplo é um bom exemplo pois muitas vezes é embutida em contratos que são assinados pela startup, os quais são pouco lidos pelos empreendedores e esses quando vão captar investimentos no futuro acabam descobrindo que tal atitude é dificultada pela necessidade de ofertar primeiramente o investimento para um parceiro passado mas não estratégico no momento.
Por essas lições e por outras, as quais não estão em falta no livro que é considerado pelo próprio Warren Buffet como o melhor livro de investimentos de todos os tempos, a obra é leitura obrigatória para todos os empreendedores por suas diversas lições sobre como estruturar negócios, como oferecer as oportunidades de investimentos para os investidores e como criar uma empresa na qual as posições, funções e propostas futuras estejam totalmente corretas e moldadas por padrões de gestão do mais alto nível.