Frente a outros países, o Brasil é exemplo em estratégias de prevenção, a famosa saúde preventiva, sendo referência no assunto com o Programa Nacional de Imunizações, o PNI, a maior cobertura vacinal gratuita do mundo, e a Estratégia de Saúde da Família e Comunidade, implementada pelo SUS e seus princípios e diretrizes.
Mesmo com a digitalização da área, a chamada Saúde 4.0, a prevenção é um dos pilares rumo a um segmento mais eficiente.
Os chamados 4Ps descrevem a saúde preventiva, preditiva, participativa e personalizada.
Dessa forma, o setor chega às parcelas mais desassistidas da população, com uma tática descentralizada, chamada de “point of care”.
Culturalmente, o estilo de vida do brasileiro é algo que preocupa, e muito, os sistemas de saúde.
Pode-se destacar, por exemplo, os maus hábitos alimentares, o sedentarismo, o tabagismo e o estresse em decorrência da rotina de trabalho, como também as dificuldades referentes ao acesso a tratamentos no país.
Em pontos geográficos específicos, falta água potável e saneamento básico ou ainda imunização.
Porém, a desinformação continua sendo uma das causas mais delicadas e complexas, além de gerar gastos extremos aos cofres públicos.
Resultados positivos em saúde preventiva
Com uma visão conjunta entre os setores público e privado, o Brasil alcança resultados positivos em relação à saúde preventiva.
Hoje, mais de 70% da população depende exclusivamente do SUS – há uma sobrecarga que compromete a qualidade do atendimento e do acompanhamento básico.
O Sistema Único de Saúde investe em média R$ 103 bilhões por ano, mas apenas 25% desse valor é destinado à saúde preventiva.
A OMS orienta ainda que o parâmetro ideal de profissionais da área seria de um médico de saúde preventiva para cada mil habitantes.
O reconhecimento dos sanitaristas, com a regulamentação da profissão em novembro de 2023, representa um avanço na Saúde da Família e Comunidade, focado na prevenção e no acompanhamento.
Um exemplo de bom gerenciamento do Estado e do investimento correto na área corresponde à diminuição drástica documentada pela ONU de enfermidades como AIDS, tuberculose, malária e as chamadas doenças negligenciadas.
Em um cenário em que esses males matam 500 mil pessoas por ano no mundo, alguns países e instituições assinaram um acordo durante a COP 28, em Dubai, para investirem R$ 3,8 bilhões em financiamento para a erradicação de doenças tropicais.
Educação, informação e terapias preventivas foram as grandes protagonistas dos avanços de nações em desenvolvimento, com grande investimento do Fundo Global da ONU em programas para controle e erradicação de doenças e epidemias.
Desafios na saúde preventiva ainda existem
O Brasil ainda enfrenta grandes desafios, como a gestão de programas assertivos às demandas e às necessidades demográficas da população; maiores investimentos destinados à saúde preventiva e suplementar e à descentralização de verba para que os recursos sejam distribuídos de maneira justa e proporcional.
Investimento em educação e campanhas de informação para melhores estudos e acompanhamento assistencial também são necessários.
A inovação é, portanto, a principal ferramenta para a resolução desses obstáculos, a fim de ampliar a qualidade da saúde, levar informação e acesso à toda população.
Novas tecnologias e metodologias para a prevenção e o diagnóstico assertivo de patologias contribuem não apenas para a melhoria da eficiência dos sistemas de saúde, mas também para a economia do setor, conforme estudos de custo-efetividade recentes.
Startups, por exemplo, levam inovação e proporcionam ao segmento a possibilidade de estudos técnicos e científicos e de análises de dados e cultura.
Assim, conseguem promover uma visão ampliada do cenário, favorecendo um leque de opções para o avanço.
Principais tendências de mercado no setor
As tendências de mercado mostram que o segmento da saúde no Brasil tende a manter sua expansão consideravelmente, já que é um setor de cuidados constantes, haja vista o envelhecimento da população.
Segundo a OMS, em 2030, o Brasil terá a quinta maior população idosa do planeta, o que aumenta a necessidade de cuidados preventivos para garantir melhor qualidade de vida e longevidade.
Também, no mesmo ano, existe a perspectiva de que nosso país alcançará a marca de 1 milhão de médicos ativos, sendo o segundo com mais profissionais formados no mundo, atrás apenas da Índia.
Mas o maior número de especialistas não significa maior cobertura ou eficiência. A estratégia dos 4Ps da Saúde 4.0 deve ser colocada em prática para que o acesso chegue de forma descentralizada em todo o território nacional.
O setor precisa de investimentos públicos e privados para sua expansão. Existem muitas possibilidades, como ações voltadas às empresas do setor, às startups e aos fundos de inovação e tecnologia.
Além das boas perspectivas de mercado, investir em saúde pode ser um bom negócio, considerando o retorno de investimento em soluções disruptivas que alcançam resultados consideráveis, como ferramentas para análises de dados gerenciais ou soluções para detecção precoce de doenças infectocontagiosas.
O mais importante é que o Brasil caminha a passos curtos, porém assertivos rumo à inovação em seu sistema de saúde.
O percurso para acelerar o desenvolvimento é sem dúvidas a informação e a educação da população, em meio a uma fonte inesgotável de recursos intelectuais que ainda não estão moldados em forma de soluções inovadoras.
Portanto, é preciso oferecer estrutura e investir em projetos de fomento para transformar ideias em soluções disruptivas.
Escrito por Rafael Kenji Hamada, médico e CEO da FHE Ventures e da Health Angels Venture Builder, fundos de investimento no formato venture builder, cujo principal objetivo é desenvolver soluções inovadoras nas áreas de saúde e educação. Carol Vasconcelos, é ex-diretora comercial na FHE Ventures.