O tema deste mês será o livro Invest for Good, dos autores Mark Mobius, Carlos von Hardenberg e Greg Konieczny em 2019. Mark é formado em comunicação pela Boston University, tem mestrado e doutorado pelo MIT em economia e trabalha ha mais de 4 décadas com investimentos em mercados emergentes.
O livro foca-se majoritariamente nas opções de investimento que vem surgindo atualmente, sobretudo aquelas ligadas às iniciativas ESG, e sobretudo também em mercados emergentes. Os autores, considerados papas dos investimentos em mercados emergentes a décadas, e com grandíssimo sucesso na área, discorrem a fundo sobre o tema, explicando as vantagens de se adotar tais práticas e as experiências que tiveram durante os anos buscando investimentos para os seus fundos de investimentos.
Investimentos além do lucro
O tema de investimentos ESG vem se tornando cada dia mais forte e frequente na sociedade, e já é possível perceber suas consequências no mundo de hoje, uma vez que a cada dia mais e mais empresas se moldam e mudam para conseguir se adequar às exigências ESG, a fim de obter uma percepção melhor do público, e acessar o pool de investimentos ligados a tais métricas. Ou seja, ao optar por investir somente em empresas que respeitem os critérios ESG, os investidores estão já nesse momento produzindo mudanças significativas nas formas como as cadeias produtivas e empresas do mundo se organizam; e existe sem dúvida necessidade urgente de tal mudança.
Para explicar melhor o que é ESG, devemos separar o acrônimo em suas três letras:
- E significa natureza, do inglês “Environment”, e serve para colocar obrigações de preservação da natureza na agenda da empresa, sem desmatamento, destruição de fauna e flora, sem despejo de materiais contaminantes, nem nada que prejudique a natureza do planeta;
- S significa social, e serve para lembrar das obrigações sociais das empresas, como inclusão das pessoas com deficiência, daqueles com menor poder aquisitivo, e daqueles marginalizados por machismo, racismo, homofobia, entre outros. Ou seja, a empresa assume o compromisso de equidade perante as pessoas da sociedade e perante seus trabalhadores.
- G significa governança, e traz a tona a necessidade de compromissos dentro da própria estrutura coorporativa, a fim de colocar times de administração diversos, com mulheres, negros, pessoas com deficiência, a fim de se obter empresas e instituições que fomentam a diversidade e a inclusão.
Os resultados a longo prazo
O tema, apesar de vir ganhando muitos adeptos recentemente, sempre esbarra no mesmo preconceito de que, por restringir as empresas e obriga-las a seguir quesitos éticos “desnecessários” (mas que, na verdade, são vitais para a própria possibilidade de manutenção da sociedade a longo prazo) os investimentos nessa área seriam menos rentáveis e, portanto, economicamente insensatos. Entretanto, além de falar sobre os avanços recentes do mercado ESG e defini-lo, o livro fala extensamente também sobre a capacidade dos investimentos ESG de trazerem investimentos rentáveis a seus acionistas.
Empresas que aderem às obrigações ESG são melhores geridas, geralmente tem menos fraudes, têm melhor capacidade de pensamento e de sair de situações difíceis – devido à pluralidade de pensamento em seu time de gestão – elas são ainda melhores locais para trabalhar e pra se consumir, retendo talentos e consumidores, elas costumam se envolver em menos processos judiciais – imagine o quanto de dinheiro seria economizado pela Vale caso, ao construir suas barragens, ela tivesse utilizado critérios ESG. Além disso, tais empresas são mais bem vistas pela sociedade, correm menos riscos de boicotes de consumidores, correm menos riscos de problemas com o legislativo, e apresentam negócios mais perenes – visto que a própria metodologia ESG se baseia na sua capacidade de ter perenidade, uma vez que as ações são tomadas pensando sempre nas consequências (uma indústria pesqueira que pesca todos os peixes em seu mar em uma década, dura somente tal década, enquanto uma que pesca pouco se mantem para sempre).
Dessa forma, os investidores também têm menos chances de entrarem em negócios de fachada ou serem enganados. No próprio livro é citado o momento em que os autores viajaram para o sudeste asiático pensando em investir em uma fabrica que produzia máquinas de lavar. Ao chegar na fábrica foram expostos a um local aparentemente perfeito, mas por sagacidade descobriram que na verdade tudo aquilo era maquiagem e que perderam muito dinheiro se fizessem o investimento.
Ou seja, mesmo sem pensar nos benefícios para a sociedade de tais investimentos baseados em critérios ESG– que por serem tão grandes não precisam nem ser citados – os investimentos éticos, que se preocupam com a sociedade e com as pessoas valem a pena.
Exemplo de aplicação
O livro faz também importante ponte com duas Startup recém adicionadas ao portfolio da FHE Ventures, que se baseiam em inovações para a melhoria da qualidade de vida dos surdos e das crianças com deficiências mentais, como autismo (principal foco da plataforma). Nós acreditamos que, dessa forma, e baseados nesse raciocínio, poderemos atingir tanto a rentabilização do capital de nossos acionistas quanto o bem maior da sociedade, melhorando a qualidade de vida de milhões de pessoas no Brasil e formando uma sociedade melhor, e na qual vale a pena viver.
Dessa forma, é leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam por investimentos e por atitudes sustentáveis e inclusivas.
Esse texto foi produzido por Wander Leão Valentim, Agente de Desenvolvimento da FHE Ventures. Wander é estudante de Medicina do oitavo período da UFMG, está ainda cursando o MBA de gestão em saúde pelo BBI of Chicago e tem passagem em Ciência da Computação por Harvard. Já lançou mais de 15 aplicativos, trabalhou por 3 anos como professor de programação, participou de Startup Weekends, entre outros.