Quando pensamos no uso da tecnologia na saúde, principalmente após uma data tão importante como o Dia Mundial da Saúde, uma imagem que vem à cabeça é a de um robô humanoide capaz de realizar procedimentos, cirurgias ou até atender um de nós.
Na verdade, o uso da tecnologia em geral e da inteligência artificial (IA) já vem revolucionando a medicina, mas passando longe de substituir qualquer profissional da área ou agir de forma autônoma – até porque as máquinas já desenvolvidas operam sempre com um humano por trás, no comando.
A IA surge como impulsionadora de uma medicina mais personalizada (por meio do processamento de dados e informações de forma rápida e precisa), otimizando processos, ajudando médicos em procedimentos e em decisões mais assertivas.
Para Rafael Kenji, médico especialista em inovação em saúde e CEO de dois fundos para startups do setor – o FHE Ventures e o Health Angels Venture Builder, o papel da IA é traduzido em três palavras-chave: informação, acesso e equidade.
“Podemos pensar a tecnologia sempre trazendo a jornada do paciente para o centro. Ele precisa ser protagonista do seu próprio cuidado, e isso passa, primeiramente, pelo fato de ele entender suas necessidades de atendimento. A IA pode ajudar muito nisso: com informação, ele terá um letramento melhor, irá se apropriar da linguagem técnica de saúde e, quando precisar, vai saber qual caminho seguir. Isso já começa por qual serviço procurar e se estende por toda a jornada”, explica Kenji. O paciente mais informado cobra e tem consciência dos seus direitos.
Já a equidade é no sentido de oferecer mais para quem tem menos recursos, em um país ainda muito desigual e diverso.
Neste contexto, temos a telemedicina e a digitalização dos processos, que também vêm se apropriando da IA.
Os médicos também se beneficiam: a tecnologia possibilita uma infinidade de análises de exames clínicos e prontuários (levando em consideração histórico do paciente e marcadores sociais para melhor encaminhamento e tratamento), acesso a dados e documentos científicos com rapidez e precisão, e trazendo inteligência para conectar profissionais que tiveram maior vivência em casos semelhantes, complementou Marcos Moraes, diretor da vertical de Saúde da multinacional brasileira FCamara, ecossistema de tecnologia e inovação.
“E, se há ganho para pacientes e médicos, os hospitais fazem uso de IA para ganhar mais eficiência, tendo oportunidade de reduzir custos, taxa de reincidência, permanência de internação e idas ao pronto-socorro”, destacou.
Como exemplos de aplicação da tecnologia na medicina estão as consultas online, para que não seja necessário se deslocar sem necessidade, o autoatendimento com tótens, para tornar o processo mais ágil, e a disponibilização de prontuários eletrônicos, que centralizam as informações.
Ascensão das healthtecs
Neste sentido, os últimos anos foram marcados por um aumento significativo nos investimentos em healthtechs, nas quais o uso de IA está em crescimento.
É o caso da dr.consulta, rede brasileira de consultas médicas, exames, vacinas e procedimentos. Guilherme Kato, CTO da startup, conta como a tecnologia tem sido utilizada de diversas formas em seus 29 centros médicos em São Paulo.
“Desenvolvemos árvores de decisão clínica para mais de 60 especialidades em mais de 300 condições médicas, que correspondem a cerca de 75% das queixas dos pacientes. As regras de decisão foram codificadas no prontuário eletrônico em nuvem, que passou a recomendar diagnósticos, exames e medicação de forma mais assertiva”, afirmou.
Segundo ele, a solução levou a uma redução de 40% na quantidade de exames solicitados, fazendo com que pacientes economizem e tenham um diagnóstico mais ágil e assertivo.
Para o futuro, a ideia da empresa é expandir seus serviços para outros estados do Brasil, por meio de teleconsultas.
Uma pesquisa da IDC encomendada pela Microsoft confirma a tendência de avanços tecnológicos no setor: 79% das organizações reportam usar IA e 65% das empresas brasileiras reconhecem que a tecnologia melhora a qualidade de produtos e serviços em um horizonte de 12 meses.
Outro estudo do Precedente Research estima que o mercado em serviços de saúde deverá crescer US$ 187,9 bilhões até 2030, expandindo a uma média de 37% ao ano entre 2022 e 2030.
Além disso, segundo a TechTarget, 30% das empresas entendem que automação, inteligência artificial e ciência de dados são prioridades de investimento nos próximos dois anos.
Texto escrito por Sofia Schuck, para Época NEGÓCIOS.