Quando se fala em inovação, há sempre muitos objetivos envolvidos para uma organização, como ganhar mercado, aumentar competitividade, manter-se atrativa, atender às demandas das pessoas, gerar receita, gerar valor para o cliente e muitas outras coisas. Mas, afinal, qual é o verdadeiro propósito de inovar?
O propósito da inovação deve estar ligado ao propósito da empresa ou instituição. Por exemplo, pense no motivo pelo qual uma organização existe, seja de saúde ou de qualquer outro segmento. Seja para entregar algum valor, para prestar algum serviço para a sociedade, para um determinado nicho de mercado, enfim… Por que ela existe? Isso tem que estar muito alinhado com a missão, visão e valores da empresa que deseja inovar.
Além disso, em uma perspectiva de futuro, é fundamental que a inovação esteja adequada, a fim de alcançar os objetivos da empresa, levando sempre em conta, claro, todos os valores dessa organização.
É preciso que a inovação esteja vinculada diretamente ao propósito da instituição, porque se não estiver, é bem possível que a organização falhe em alcançar sua missão e sua visão de futuro, bem como existe a chance de todas as iniciativas de inovação serem perdidas. Dessa maneira, é bom que esteja muito claro para a empresa o porquê de inovar, o que se deve alcançar a partir disso, o que se deve buscar e como fazê-lo.
E falando em como fazer, é preciso lançar estratégias. Há a inovação para a estratégia é estratégia para a inovação.
Quando a inovação está relacionada à missão e visão da organização, ela é uma inovação para a estratégia da empresa. Mas a inovação também não ocorrerá se não houver uma estratégia para que a própria inovação aconteça. Essas duas coisas precisam estar muito claras e sedimentadas dentro da estrutura da inovação.
Para que a estratégia realmente dê certo, é preciso que haja um alinhamento interno entre todas as pessoas e que elas entendam o porquê disso estar sendo feito e quais os objetivos para tanto. A estratégia nada mais é do que fazer escolhas: quais as coisas mais prioritárias e quais as coisas menos prioritárias.
Falando sobre a inovação para a estratégia, é importante que algumas perguntas sejam respondidas, como:
- Em relação aos clientes: Como a inovação criará valor para clientes em potencial? E o mais importante: quem será nosso cliente? Para quem serão direcionados nossos esforços?
- Em relação aos produtos: Esses produtos ou serviços virão a partir do que está sendo oferecido no mercado ou a empresa criará outros produtos ou serviços?
- Em relação ao cercado: Quais são as lacunas ou gaps de mercado que a empresa deve preencher para que tenha uma vantagem competitiva, sendo inovadora?
Novas necessidades não tão bem atendidas
Na área da saúde, por exemplo, os pacientes idosos foram negligenciados pelos planos de saúde até que surgiram empresas e operadoras que focaram neles e obtiveram bastante sucesso.
Com o cenário de pandemia, muitas pessoas perderam junto com seus empregos os planos de saúde. Com o Sistema Único de Saúde (SUS) totalmente saturado, eles migraram para a utilização de serviços de saúde nas chamadas clínicas de varejo, onde são oferecidos diversos serviços a preços acessíveis. Isso significa criar novas formas de produzir, entregar, distribuir produtos ou serviços não existentes.
Serviços de saúde através de aplicativos, controles online de histórico médico, acessibilidade por intérprete para pessoas com deficiência auditiva, popularização dos serviços de telemedicina, agendamentos online… nada mais é do que entregar o mesmo serviço de forma diferente.
Como oferecer isso de forma que traga um resultado interessante para a empresa ou para o profissional da saúde e, ainda assim, tenha um custo atrativo para o paciente ou pessoa que usufrui desse serviço? Por meio da inovação!
Definição de inovação
Dito isso, é importante que tenhamos a definição do que é inovação. Assim como a definição de estratégia, temos várias abordagens, mas, para nosso contexto, podemos definir que inovação é um produto ou processo novo ou melhorado (ou combinação dos mesmos) que difere significativamente dos produtos ou processos anteriores da “unidade” e que foi disponibilizado para usuários potenciais (produtos/serviços) ou colocado em uso pela unidade (processo).
Tipos de inovação
Dentro do conceito de inovação, temos a inovação tecnológica, que se refere a um novo conceito, com novos equipamentos para procedimentos, novas formas de se fazer um diagnóstico, novos tratamentos, novos medicamentos… São novas ferramentas para se fazer o serviço utilizando de meios tecnológicos.
Por outro lado, há inovações que estão mais ligadas ao modelo de negócio. São novos métodos para se fazer a mesma coisa. Como, por exemplo, o compartilhamento de carros por meio de aplicativos. A utilização de carros para transporte sempre existiu na forma de táxis, mas a utilização de um carro pessoal, disponibilizado para fazer transporte de pessoas, foi uma mudança no modelo de negócio.
Além disso, podemos pensar a inovação em duas vertentes:
- Inovação fechada: quando a empresa investe em pesquisa e desenvolvimento dentro da sua estrutura. Pode ter um custo alto e demorar muito para ser implementada e ter resultados.
- Inovação aberta: quando a empresa busca no mercado soluções prontas ou a serem desenvolvidas com o objetivo de superar os desafios específicos da organização.
Inovação em saúde
Tudo isso que eu falei serve para qualquer segmento, não só para a área da saúde. Contudo, quando se fala em inovação médica ou na área de saúde, é preciso pensar nas particularidades do setor e em suas características próprias. Quem não analisar profundamente como funciona a medicina no Brasil, corre um risco claro de falhar na missão de inovar nesse mercado.
Para você ter uma ideia, os gastos com cuidados de saúde no mundo devem crescer cerca de 5,4% ao ano até 2022, segundo o relatório Global Health Care Outlook 2019. Além disso, a expectativa de vida da população segue aumentando. Em 2018, era de 73,4 anos, e a previsão é de 74,4 para 2022.
Mas, saindo um pouco do cenário mundial, é importante também observar como anda o desenvolvimento da área de saúde no Brasil e o surgimento de novos negócios no país. Segundo a Distrito, há mais de 370 startups de healthtech no Brasil.
Forças para a mudança
Muitas forças têm estimulado a inovação, fazendo com que as empresas procurem fazer coisas diferentes para alcançar os seus objetivos e gerar valor. Algumas delas são:
- Tecnologias: A área da saúde, assim como outras, tem recebido novas tecnologias e, com o avanço delas, isso tem permitido que novos serviços sejam disponibilizados, como a telemedicina, monitoramento à distância, entre outros. Então, a tecnologia é um drive muito grande para mudança na saúde.
- Pessoas: A própria necessidade das pessoas, a mudança de valores, às vezes da própria sociedade, os desejos por maior comodidade frente aos serviços que são ofertados, uma maior facilidade de acesso e acesso mais imediato, a própria mudança do padrão de consumo, com um consumo mais crítico de não consumir só por consumir, mas priorizar empresas mais éticas, são fatores de inovação.
- Mercado: A mudança de mercado e um maior poder de barganha de grandes operadoras, fazendo com que o mercado fique mais competitivo, também leva empresas a inovar.
- Custos: O aumento dos custos em saúde, fazendo com que os recursos sejam direcionados para mais eficiência, e a própria regulação das políticas de saúde dentro dos países fomentam a inovação.
- Regulação: As startups agora têm um marco legal que estimula a criação dessas empresas que têm como foco a inovação e facilita a atração de investimentos para o modelo de negócio.
- Necessidades: O enfrentamento de necessidades da saúde, como a própria covid-19, que fez com que todas as questões acima mudassem radicalmente num curto espaço de tempo, fez com que as organizações se transformassem de maneira muito rápida.
Dentro de todos esses drives que têm surgido, a principal é a saúde digital, que refere-se ao uso de ferramentas e tecnologias da informação para fornecer serviços de saúde ou facilitar uma saúde melhor. E isso é um desafio muito grande frente a um setor que é, na maioria das vezes, bastante conservador do ponto de vista de mudança. Mas não tem como não se adaptar a isso.
A inovação em saúde é muito ampla: seja na perspectiva do paciente, na perspectiva da eficiência das organizações, dos processos internos, das tecnologias embarcadas no processo a ser implementado… No fim das contas, ela sempre objetiva melhorar a saúde do indivíduo e da população como um todo.
Quando se pensa em inovação, com a criação de um novo serviço ou produto, é fundamental que os stakeholders desse processo sejam consultados ou avaliados sobre o impacto dessa inovação, desse novo serviço, desse novo processo. O que engloba desde a equipe assistencial, médica e outros profissionais, pacientes e organização de saúde até as pessoas e organizações que estão desenvolvendo a inovação e as agências reguladoras e governo.
Todos esses aspectos dentro da área da saúde devem ser considerados quando se pretende introduzir algo novo dentro do segmento. Não adianta fazer algo que seja totalmente disruptivo, mas que, por exemplo, a agência reguladora e as políticas nacionais não permitam. Todos esses aspectos têm de ser considerados. Ainda, vale sempre lembrar que a adoção de novos processos e tecnologias, e da própria inovação, depende do quanto ela é fácil, relevante, nova e de quão efetivos são os benefícios que ela traz para as pessoas em geral.
Impactos da inovação na saúde
1. Facilidade de contato entre os pacientes e os profissionais
A tecnologia móvel interliga todos e proporciona uma aproximação em diferentes contextos sociais, facilitando o contato e a interação entre todas as pessoas. Isso também se aplica, com bastante eficácia, dentro dos consultórios e clínicas médicas. Basta analisar a praticidade da confirmação de consultas por meio da troca instantânea de mensagens via WhatsApp, o relacionamento nas redes sociais com os pacientes, tirando suas dúvidas e agilizando encaminhamentos médicos, e a disponibilidade ao acesso online de informações sobre todos os dados e processos da clínica.
2. Maior eficácia no diagnóstico
Com a precisão computadorizada dos aparelhos clínicos e hospitalares, as chances de erros nas investigações de patologias foram, significativamente, minimizadas. Isso possibilita uma maior exatidão para os encaminhamentos de tratamentos, otimizando todo o processo médico.
3. Agilidade no resultado
Laudos médicos são, muitas vezes, disponibilizados também pela internet, permitindo que o paciente tenha um rápido acesso aos resultados. Com isso, são facilitados os procedimentos de direcionamento clínico e hospitalar, beneficiando a todos.
4. Gestão e eficiência
É possível organizar as , trazendo tranquilidade e transparência aos profissionais de saúde. Os sistemas podem ser utilizados na organização dos prontuários eletrônicos, no agendamento dos atendimentos e até mesmo na gestão financeira dos consultórios e clínicas.
5. Plataformas online
Ferramentas de gestão e telemedicina são exemplos eficientes de tecnologias facilitadoras para a gestão médica. Esses recursos podem conceder aos pacientes resultados e análises de laudos médicos e informações diversas contidas em seu prontuário, por exemplo, além de proporcionarem o monitoramento à distância pelo profissional.
6. Tratamento dos pacientes
Avanços tecnológicos em equipamentos e diagnósticos podem proporcionar procedimentos mais seguros e com maior precisão em grande parte dos tratamentos. Tanto as complicadas cirurgias quanto os casos simples de suturas podem ser igualmente melhorados e obter as devidas intervenções com a utilização dessas inovações. Dispositivos de imagem 3D e Realidade Aumentada são alguns dos meios para o uso de grandes tecnologias nos procedimentos médicos.
7. Prevenção de doenças
Por meio de novas formas estratégicas de exames, é possível detectar e identificar, em pouco tempo, possibilidades de patologias. Assim, de forma prematura, consegue-se evitar procedimentos dolorosos, invasivos e agressivos ao organismo.
8. Procedimentos com uso de robôs-cirurgiões
Testes mostram que a tecnologia robótica possui mais exatidão em cortes do que as mãos humanas, pois é livre de tremores e garante precisões milimétricas. Isso favorece o êxito nas operações, tendo grande relevância para o paciente e o médico na facilitação de procedimentos.
9. Uso de Big Data e inteligência analítica
Esses conceitos referem-se ao imenso conjunto de dados que são gerados todos os dias e que podem ser armazenados, os quais não eram processados, interpretados e aproveitados de forma adequada por tecnologias mais antigas.
10. Mapeamento genético
O mapeamento genético permite, por exemplo, a identificação de alterações patológicas que podem predispor o surgimento de tumores, de males hereditários e outras condições potencialmente graves.
11. Aplicativos de saúde
Eles podem ajudar não apenas os pacientes, como os próprios profissionais, tanto em tarefas da rotina, como no gerenciamento de tempo, quanto na resolução de dúvidas que possam surgir quanto à parte técnica da medicina. Um bom exemplo são os aplicativos de nutrição, que sugerem opções mais saudáveis de alimentação.
Como promover a inovação?
Nós precisamos inovar porque precisamos entregar valor. As empresas precisam inovar, os serviços precisam aumentar sua vantagem competitiva, para não sucumbirem ao mercado cada vez mais difícil. Nós precisamos atender às demandas e gerar valor para nossos clientes. Mas como se faz isso?
Existem muitas fórmulas prontas no mercado, mas o fato é que nenhuma receita pronta pode ser integralmente replicada, e a realidade é que cada organização precisa fazer seu próprio modelo de inovação. É claro que as organizações e profissionais de saúde têm que entender, olhar o que está sendo feito no mercado, mas, muito provavelmente, cada um terá que construir o seu próprio caminho. Ainda, há tecnologias e ferramentas que auxiliam no processo de inovação, mas elas sozinhas não são suficientes.
Portanto, para inovar, é preciso criar estratégias, sistemas, processos mínimos ou estruturas que permitam a identificação de problemas, das necessidades e demandas, das tendências ou de ideias e soluções no contexto da empresa. Com isso, deve ser feita a análise, seleção e priorização ou direcionamento de esforços e recursos, com a capacidade de prototipar, testar e realizar pilotos, a fim de alcançar os objetivos que foram propostos, mensurando seus resultados e impactos.
Mas atenção: qualquer estratégia de inovação só será bem-sucedida se estiver vinculada à estratégia da organização, criando valor para ela e para seus clientes.
A FHE Ventures
A FHE Ventures é uma Corporate Venture Builder que tem o objetivo de desenvolver soluções inovadoras nas áreas de educação e saúde. Ela nasceu da junção de interesses de grandes instituições:
- Saúde Ventures — é uma Venture Builder do setor de saúde e se transformou em uma holding de investimentos que seleciona de forma contínua startups e inovações aplicadas.
- FCJ Venture Builder — é uma multinacional que licencia o modelo de Venture Builder 4.0, pioneira na América Latina. Já tem mais de 30 iniciativas semelhantes no Brasil e no exterior.
Na FHE Ventures, nós encontramos bons negócios e os ajudamos a crescer e se desenvolver. Trabalhamos lado a lado com os fundadores, somos mão na massa e estamos juntos em todos os momentos. Nós categorizamos o setor da saúde, adaptando soluções à realidade do cenário de saúde atual. A FHE Ventures propicia a criação de um ecossistema de saúde, dilui o risco de investidores-anjo, gera intercomunicação entre as startups e contribui com o legado da inovação em saúde.
Este texto foi escrito por Gabrielle Vieira, gerente de inovação da FHE Ventures. Administradora de empresas, pós-graduada em gestão financeira e MBA em Mercado de Capitais, e está cursando a pós graduação em Saúde 4.0 Inovação, Tecnologia e Gestão.
Em sua trajetória no mundo da inovação, atuou como gestora de portfolio, desenvolveu 5 programas de aceleração e já desenvolveu mais de 100 startups.
Saiba mais em sua página do LinkedIn: in/gabriellevieira